Nova Acrópole e o Escândalo do Panama Papers: As empresas de Delia Steinberg Guzman em Paraíso Fiscal
A Nova Acrópole, que se apresenta como instituição cultural e filosófica sem fins lucrativos, aparece ligada ao escândalo do Panama Papers através de seus dirigentes internacionais.
A Nova Acrópole sempre se apresentou ao público como
uma instituição cultural e filosófica, sem fins lucrativos, dedicada à promoção
da sabedoria, da ética e da fraternidade universal. Em seus discursos, apela à
ideia de “serviço à humanidade”, cultivando a imagem de um espaço voltado ao
crescimento interior e à formação de cidadãos conscientes.
Por trás dessa fachada idealizada, no entanto, surgem
indícios de uma realidade muito diferente. Documentos de registros empresariais
mostram que os principais dirigentes internacionais da Nova Acrópole,
incluindo sua diretora mundial Delia Steinberg Guzmán e seu braço direito, o “Guardião
dos Selos” Juan Manuel de Faramiñán, não apenas comandavam a instituição,
mas também figuravam como diretores e presidentes de uma série de empresas
constituídas no Panamá, um dos paraísos fiscais mais notórios do
planeta.
Essa revelação gera um contraste perturbador: enquanto
pediam dedicação total e contribuições financeiras de seus membros, os líderes
máximos da organização recorriam a estruturas offshore tradicionalmente
associadas à opacidade e à blindagem patrimonial. A contradição entre o
discurso filosófico e a prática corporativa lança dúvidas profundas sobre a
verdadeira natureza da instituição e sobre o destino dos recursos que arrecada
em escala global.
O que foi o Panama Papers
Em 2016, o mundo foi sacudido por uma das maiores revelações
jornalísticas da história: o Panama Papers. O escândalo nasceu de um
vazamento de mais de 11 milhões de documentos do escritório de advocacia
panamenho Mossack Fonseca, especializado na abertura de empresas
offshore em paraísos fiscais.
A investigação, conduzida pelo Consórcio Internacional de
Jornalistas Investigativos (ICIJ) em parceria com mais de 100 veículos de
imprensa, expôs como chefes de Estado, empresários bilionários, celebridades e
organizações utilizavam essas estruturas para ocultar patrimônio, reduzir
impostos ou, em alguns casos, movimentar recursos de origem obscura.
Ter uma empresa offshore, por si só, não é ilegal. Muitos
alegam utilizá-las para gestão internacional de ativos ou planejamento
tributário. No entanto, a prática levanta sérias questões éticas — sobretudo
quando envolve líderes que pregam transparência, austeridade ou ideais de
fraternidade. O Panama Papers mostrou que, em boa parte dos casos, essas
empresas serviam como cortina de fumaça, permitindo a seus donos operar no limite
da legalidade ou completamente fora dela.
As empresas ligadas aos dirigentes da Nova Acrópole
Entre os nomes revelados em registros panamenhos estão duas
figuras centrais da Nova Acrópole: Delia Steinberg Guzmán, que presidiu
a organização internacional entre 1991 e 2020, e Juan Manuel de Faramiñán,
conhecido internamente como “Guardião dos Selos” — o braço direito da diretora
mundial e chefe do instituto jurídico da instituição, o MAAT.
Documentos do Registro Público do Panamá, disponíveis
em bases como o OpenCorporates, mostram ambos atuando como presidentes,
diretores e secretários em diversas sociedades anônimas panamenhas,
entre elas:
- SEKHMET
     S.A. 
 - ANIO,
     INC. 
 - UNION
     COMMANDER, S.A. (incorporada em 1996, dissolvida em 2014)
 
Em todas essas empresas, o agente responsável aparece
listado como Lopez, Morales & Chiari (MAAT Asesores) — o que
evidencia a ligação direta com o grupo jurídico que a Nova Acrópole apresenta
como seu “Instituto de Ciências Jurídicas”, também chamado MAAT.
A coincidência é demasiado precisa para ser ignorada: os
mesmos dirigentes que controlavam a hierarquia internacional da Nova Acrópole,
e que exigiam sacrifícios e doações de milhares de membros pelo mundo, também
geriam empresas em um dos paraísos fiscais mais notórios, através do braço
jurídico interno da própria instituição.
A contradição entre discurso e prática
A Nova Acrópole construiu sua imagem pública sobre pilares
como fraternidade, ética e desapego material. Seu lema — “Nova Acrópole
pede tudo, pois dá tudo” — reforça a ideia de entrega total a um ideal que
supostamente transcende interesses financeiros. Dentro dessa narrativa, membros
são incentivados a dedicar tempo, energia e, muitas vezes, contribuições
financeiras para sustentar a instituição.
No entanto, a presença de seus dirigentes máximos como administradores
de sociedades offshore no Panamá lança uma sombra sobre esse discurso.
Empresas em paraísos fiscais são frequentemente utilizadas para ocultar
patrimônio, blindar recursos e reduzir transparência — práticas que colidem
frontalmente com os valores que a instituição proclama.
A contradição é gritante: enquanto milhares de alunos e
voluntários ao redor do mundo se sacrificavam em nome de uma filosofia que
prega altruísmo e simplicidade, os líderes internacionais recorriam a estruturas
jurídicas sofisticadas para operar em um dos ambientes mais opacos do
sistema financeiro global.
Mais do que uma simples incoerência, trata-se de um choque
entre a retórica da virtude e a prática da conveniência. A pergunta inevitável
é: a quem realmente servem essas estruturas? Aos ideais proclamados ou aos
interesses ocultos de uma cúpula dirigente?
Conclusão
O Panama Papers revelou ao mundo um padrão
recorrente: por trás de discursos de moralidade e de instituições respeitáveis,
muitas vezes operam redes ocultas de interesses financeiros. No caso da Nova
Acrópole, a presença de sua diretora internacional Delia Steinberg Guzmán e
de seu braço direito Juan Manuel de Faramiñán como dirigentes de empresas
offshore no Panamá, administradas pelo próprio braço jurídico da instituição
(MAAT), reforça essa lógica de contradição.
A descoberta não implica automaticamente em ilegalidade, mas
expõe um abismo ético. Como conciliar a retórica de fraternidade,
simplicidade e desapego material com a realidade de estruturas em um paraíso
fiscal conhecido justamente pela opacidade e pela evasão de responsabilidades?
Para os que participaram ou ainda participam da Nova
Acrópole, a revelação é perturbadora: a instituição que sempre exigiu transparência,
disciplina e sacrifício de seus membros, ao que tudo indica, não aplicava
os mesmos princípios a si própria.
Assim, a pergunta que ecoa após os documentos e registros é
direta e inevitável:
a Nova Acrópole é realmente uma escola de filosofia voltada à ética e à
verdade, ou uma organização que, como tantas outras, se refugia nas sombras
financeiras quando se trata de seus próprios interesses?
Pesquise por conta própria e tire suas conclusões:
https://opencorporates.com/officers?q=delia+steinberg+guzman&utf8=%E2%9C%93
Nossos correspondentes internacionais estão investigando os documentos e em breve traremos mais detalhes.