A Morte de um Força Viva: O Caso Paulo Gabriel Lopes Tonetto e o Grupo Paramilitar da Nova Acrópole

Nova Acrópole oculta provas, modifica cena do crime e mente nos testemunhos para manter a "Aura" de Escola de Filosofia

Mãe buscou justiça e Nova Acrópole utilizou de seu poder jurídico para destruir a vida dela…

Em novembro de 2014, um episódio trágico marcou a história da Nova Acrópole no Brasil Norte. Paulo Gabriel Lopes Tonetto, então membro ativo da instituição e identificado como Corpo de Segurança uma de suas chamadas “forças vivas”, perdeu a vida aos 24 anos após um disparo de arma de fogo ocorrido na Fazenda Rio Verde, em Cocalzinho de Goiás. O local é utilizado para atividades internas da organização e mantém uma estrutura de vigilância que, oficialmente, sempre foi negada pelos seus dirigentes.

A morte de Paulo desencadeou uma longa disputa judicial entre seus familiares e a Organização Nova Acrópole. De um lado, a família acusava a instituição de negligência e imprudência, alegando que o jovem havia sido escalado para cumprir funções de vigilância armada sem qualquer treinamento adequado. Do outro, a Nova Acrópole insistia que o ocorrido teria sido um acidente causado por iniciativa exclusiva da vítima, negando qualquer responsabilidade e, principalmente, a existência de um corpo de segurança estruturado dentro da fazenda.

O processo judicial, no entanto, revelou um cenário muito mais complexo. Documentos internos da própria Nova Acrópole — como escalas de vigilância, check-lists operacionais e manuais de conduta para grupos denominados “Cavaleiros de Segurança Cérbero” — demonstraram que havia, sim, uma organização paramilitar ativa dentro da instituição. Esses registros entraram em choque direto com os depoimentos uniformes das testemunhas, todas vinculadas ao grupo, que negaram a prática de guarda armada.

Perante esse choque entre documentos e depoimentos, a própria sentença de 1ª instância registrou que as cinco testemunhas ligadas à instituição “calaram a verdade” sobre ponto fundamental do processo — as circunstâncias da morte de Paulo Gabriel — e determinou que, após o trânsito em julgado, fossem expedidos ofícios ao Ministério Público Federal, com cópia das principais peças, para apuração de possível crime de falso testemunho (CP, art. 342), nominando: José Osmar Veloso Frederico, Mateus Silvestre Trindade, Norton de Souza Carneiro, Heitor de Lima Matos e Ana Cristina Machado.

Essa contradição, somada às falhas na preservação do local do crime e à demora na comunicação à família, levantou suspeitas de encobrimento e abriu espaço para reflexões mais amplas: até que ponto a morte de Paulo Gabriel foi de fato um acidente? E até que ponto ela pode ter sido resultado da pressão psicológica, da melancolia e da submissão a um ambiente tóxico típico de seitas?

Sentenças de condenação da Nova Acrópole:

1ª Instância - https://archive.org/details/20571871-sentenca-sentenca
2ª Instância -
https://archive.org/details/morte-de-um-fv-no-brasil

Notícias sobre a morte:
https://portalcontexto.com/me-busca-justia-para-morte-do-filho-no-cair-no-esquecimento/
https://portalcontexto.com/me-se-diz-punida-apenas-pelo-seu-inconformismo/ 

 

O Caso Paulo Gabriel



A versão oficial

Logo após o ocorrido, a Organização Nova Acrópole apresentou sua versão dos fatos: segundo a instituição, Paulo Gabriel não estava escalado para nenhuma função de segurança no dia da morte. Afirmaram que ele teria ido ao local por conta própria, de livre e espontânea vontade, e que o disparo fatal teria sido resultado de uma prática recreativa de tiros. A direção sustentou também que não tinha conhecimento de que Paulo portava armas e negou veementemente ter fornecido ou autorizado qualquer armamento aos seus voluntários.

Para reforçar essa narrativa, testemunhas ligadas à Nova Acrópole declararam em juízo que jamais existiu vigilância armada na Fazenda Rio Verde. Todas as falas convergiam para o mesmo ponto: Paulo estaria sozinho, portando uma arma por iniciativa pessoal, e o acidente teria sido consequência exclusiva de sua imprudência. Essa versão buscava, acima de tudo, excluir qualquer nexo causal entre a instituição e a morte.

A versão da família

A família de Paulo apresentou uma narrativa radicalmente distinta. Segundo sua mãe, Elza Maria Parreira Lopes Tonetto, e seu irmão, Sylvio Tonetto Netto, o jovem havia sido escalado pela própria Nova Acrópole para exercer função de vigilância armada na entrada da fazenda no dia do disparo. Documentos anexados ao processo confirmaram que ele constava na escala de guarda justamente na data de sua morte.

Além disso, os familiares denunciaram a ausência de preparo e treinamento adequados para manuseio de armas de fogo. Ressaltaram ainda que os primeiros socorros prestados foram feitos de forma improvisada, sem qualquer equipe técnica ou aparato adequado, e que a comunicação oficial do acidente só lhes foi feita doze horas depois. Para eles, esses elementos caracterizavam negligência e imprudência graves por parte da instituição.

Alerta: Mesmo após a proibição interna de armas de fogo à época do caso, o Corpo de Segurança segue realizando “guardas” com armas brancas — e isso não altera o essencial: atividades de segurança privada, armadas ou desarmadas, só podem ser executadas por vigilantes formados, registrados e vinculados a empresa especializada ou serviço orgânico autorizado e fiscalizado pela Polícia Federal (Lei 7.102/1983 e Portaria DPF nº 3.233/2012). Quem desempenha essa função sem preencher os requisitos incorre, em tese, na contravenção penal de exercício ilegal de profissão (art. 47 da Lei de Contravenções Penais). Se, além disso, ostentar ou transportar facas/cassetetes em via pública ou áreas de acesso comum, a conduta pode caracterizar o porte de arma do art. 19 da LCP — entendimento recentemente reafirmado pelo STF. E eventuais abordagens, revistas, retenções ou “disciplinas” impostas a terceiros podem configurar constrangimento ilegal (art. 146 do CP) e exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Recado direto a quem está lendo do CS: cada plantão “irregular” te expõe, em tese, a risco penal e cível; não aceite escala sem formação, registro e autorização — e procure orientação jurídica independente.

O confronto entre versões

Enquanto a Nova Acrópole buscava enquadrar o episódio como um acidente pessoal desvinculado de suas atividades, os familiares insistiam que a morte foi consequência direta de uma atividade paramilitar conduzida dentro da própria instituição. Foi nesse choque de narrativas que se desenrolou a batalha judicial, expondo as contradições e levantando dúvidas sobre até que ponto a morte de Paulo Gabriel foi fruto de descuido, encobrimento ou até de uma possível pressão psicológica que poderia ter levado a um suicídio disfarçado de acidente.

 

A Prova da Estrutura Paramilitar

O “Cérbero”: cavaleiros de segurança

Apesar das reiteradas negativas da Nova Acrópole, a investigação policial e o processo judicial trouxeram à tona documentos internos que confirmaram a existência de uma estrutura de segurança armada organizada. Um dos principais achados foi o Check List dos Cavaleiros de Segurança Cérbero, grupo de voluntários encarregado de funções de vigilância durante os eventos da instituição.

Esse check-list descrevia atribuições típicas de uma brigada paramilitar: rondas de abertura e fechamento de eventos, verificação de rotas de evacuação, controle de acessos e permanência em postos de observação. Ou seja, atividades que ultrapassavam em muito o escopo de um simples trabalho voluntário de apoio cultural.

O nome “Cérbero”, alusão ao cão de três cabeças da mitologia grega que guardava os portões do Hades, não era casual: simbolizava a função de vigiar, controlar e proteger o espaço da Nova Acrópole contra “ameaças externas”.

O “Esquema Seg FZD (Fazenda) – Escala Ouro”

Outro documento que pesou contra a versão oficial foi o Esquema Seg FZD – Escala Ouro (Finais de Semana). Esse manual interno determinava expressamente que os CdS (Cavaleiros de Segurança) deveriam permanecer armados e que, em caso de ameaça, o protocolo previa até mesmo o disparo de arma de fogo. O título “Escala Ouro” refere-se ao nível que Paulo possuía dentro da organização. Ou seja, ele fazia parte da elite do corpo de segurança, sendo autorizado a portar armas de fogo.

Longe de um improviso individual, o material mostrava que havia regras formais e claras para o uso de armas dentro da fazenda da Nova Acrópole, revelando que a vigilância armada fazia parte da rotina institucional.

A escala de Paulo Gabriel

O processo judicial ainda revelou que Paulo Gabriel constava oficialmente na escala de guarda justamente no dia 28 de novembro de 2014, data de sua morte. Ou seja, sua presença na guarita não foi um ato voluntário isolado, mas sim o cumprimento de uma função determinada pela própria organização.

Essa evidência desmonta a versão de que ele teria comparecido “por livre vontade” para um lazer com armas. A instituição não apenas sabia de sua função, como também a havia formalizado.

Um aparato militar sob fachada filosófica

Esses documentos expõem uma contradição central: enquanto a Nova Acrópole se apresenta publicamente como uma escola de filosofia e cultura, internamente mantinha um aparato de segurança com características paramilitares, atribuindo a voluntários — sem treinamento adequado — tarefas arriscadas e ilegais, como porte e manuseio de armas de fogo.

A existência desse aparato foi fundamental para que o tribunal reconhecesse a negligência da instituição e sua responsabilidade pela morte de Paulo Gabriel.

 

A Contradição Entre Testemunhas e Documentos

Durante o processo judicial, todas as testemunhas ligadas à Nova Acrópole foram unânimes em negar a existência de vigilância armada na Fazenda Rio Verde. Em suas versões, Paulo Gabriel jamais teria desempenhado funções de segurança, e a instituição nunca teria autorizado ou fornecido armas a voluntários.

A uniformidade das falas, no entanto, levantou suspeitas no próprio tribunal. O relator observou que os depoimentos pareciam “convenientemente alinhados” com a defesa da instituição, o que retirava credibilidade da prova testemunhal. Em outras palavras, o peso das versões orais foi considerado irrelevante diante das evidências materiais.

Enquanto as testemunhas negavam a guarda armada, documentos internos contradiziam essa narrativa. O Check List dos Cavaleiros de Segurança Cérbero e o Esquema Seg FZD – Escala Ouro revelaram que existia um corpo organizado de vigilância, com regras claras e atribuições específicas, incluindo o uso de armas.

Além disso, a escala oficial demonstrava que Paulo Gabriel estava designado para a função de guarda no dia do óbito. Essa documentação provou que sua presença na guarita não era casual, mas resultado de uma ordem institucional.

O tribunal foi categórico ao afirmar que as testemunhas — tanto as arroladas pela acusação quanto pela defesa — omitiram deliberadamente a verdade para proteger a Nova Acrópole. A uniformidade das negativas foi interpretada como parte de um esforço coletivo de encobrimento, visando afastar qualquer responsabilidade civil ou penal da organização.

Essa contradição entre papéis assinados e falas ensaiadas expôs a estratégia institucional: sustentar uma fachada pública de “escola filosófica” enquanto negava sistematicamente práticas paramilitares já registradas em seus próprios documentos.

 

Negligência e Falhas Graves

O tribunal reconheceu que a Nova Acrópole designou Paulo Gabriel para uma função de vigilância armada sem qualquer qualificação técnica ou preparo. A Lei nº 7.102/93 determina que atividades de segurança armada só podem ser exercidas por profissionais legalmente habilitados, o que não era o caso. A instituição, ao entregar ou permitir o uso de armas de fogo por voluntários sem formação, incorreu em ato ilícito e negligente.

Outro ponto grave foi a forma como o local do disparo foi tratado. A área não foi isolada imediatamente após o incidente, e a perícia oficial só foi realizada 17 dias depois, em 15 de dezembro de 2014. Nesse intervalo, o espaço já havia sido alterado, inviabilizando uma análise precisa das circunstâncias do disparo.

O socorro prestado a Paulo também revelou falhas. Após o disparo, ele foi removido sem o devido preparo técnico e transportado de forma inadequada até o hospital em Brazlândia/DF. Essa demora e falta de atendimento especializado reduziram drasticamente suas chances de sobrevivência, configurando mais uma evidência de negligência da instituição.

A família de Paulo Gabriel sequer foi informada do ocorrido no mesmo dia. A notícia oficial da ocorrência só chegou na manhã seguinte, cerca de 12 horas depois do disparo. Esse lapso de comunicação acentuou a dor dos familiares e contribuiu para a sensação de ocultamento e descaso.

Diante desse conjunto de falhas — ausência de treinamento, descumprimento da lei, perícia tardia, socorro inadequado e comunicação omissa —, o tribunal concluiu que a Nova Acrópole foi imprudente e negligente, assumindo responsabilidade civil pela morte do voluntário. Ainda assim, a indenização foi reduzida com a justificativa de que a instituição é “sem fins lucrativos”, o que deixou os familiares com a sensação de injustiça e impunidade.

 

A Dimensão Psicológica e a Hipótese de Suicídio

Um dos elementos mais sensíveis do processo foi o reconhecimento do sofrimento psíquico de Paulo Gabriel. Seus familiares relataram que ele atravessava momentos de fragilidade emocional, intensificados pelo peso das funções que exercia dentro da Nova Acrópole. A própria mãe, após a perda, entrou em tratamento psiquiátrico severo, o que reforça a dimensão devastadora da tragédia.

Os documentos obtidos demonstram que Paulo não estava apenas em um voluntariado comum, mas inserido em uma estrutura paramilitar: escalas de guarda armada, protocolos de vigilância e ordens explícitas para portar armas e disparar se necessário. Esse ambiente, marcado por disciplina rígida e lavagem cerebral, pode ter intensificado seu quadro emocional e agravado a sensação de isolamento.

A versão oficial insistiu em classificar o disparo como um acidente isolado. No entanto, a hipótese de suicídio não pode ser descartada. A conjunção entre melancolia, pressão psicológica intensa e a falta de acompanhamento especializado criam um cenário no qual o disparo pode ter sido um ato voluntário — interpretado, convenientemente, como acidente.

A ausência de preservação imediata da cena do ocorrido e o atraso da perícia reforçam ainda mais a dúvida. Se o local tivesse sido isolado, talvez houvesse condições de confirmar ou afastar definitivamente essa hipótese.

 

A dúvida que permanece

O tribunal reconheceu a negligência da Nova Acrópole e condenou a instituição, mas não avançou na apuração da possibilidade de suicídio. Para familiares, amigos e ex-membros, permanece a sensação de que a verdade completa não veio à tona. Ao longo da história da organização, circulam relatos de ex-integrantes sobre casos de suicídio em diferentes países — inclusive um “Mando Nacional” na Argentina, na década de 90, teria tirado a própria vida — e de outros episódios supostamente abafados. Importante frisar: não há documentação pública verificável que permita confirmar esses casos específicos; tratam-se de alegações presentes em depoimentos dispersos e reportagens sobre o ambiente interno, como a matéria de El País (Uruguai) que registrou denúncias de manipulação e provas físicas nas “Forças Vivas”, e dossiês de entidades que monitoram “derivas sectárias”, como a MIVILUDES na França e associações de apoio a ex-adeptos. Essas fontes não confirmam suicídios, mas descrevem pressão psicológica intensa e uma cultura hierárquica rígida, fatores que podem agravar o sofrimento psíquico de membros vulneráveis.

Se — hipótese — Paulo decidiu tirar a própria vida, por quê? A literatura sobre grupos de alto controle e contextos para-militarizados ajuda a pensar em mecanismos plausíveis:

  • Dissonância cognitiva (Festinger): quando a prática interna desmente o ideal declarado, o choque entre crenças e fatos pode produzir angústia e colapsos identitários.
  • Lesão moral (Litz et al.): testemunhar, participar ou ser coagido a ações percebidas como eticamente erradas pode gerar culpa, vergonha e desespero — elementos associados a maior risco de ideação e tentativas de suicídio.
  • Coerção e controle: revisões indicam que exposição a controle coercitivo se associa a depressão e sintomas de TEPT — quadro que, sem suporte clínico, amplia vulnerabilidades.
  • Privação de sono e hiper-vigilância: escalas noturnas de guarda, pela própria natureza, tendem a perturbar o sono; a privação de sono é um fator de risco adicional para ideação e comportamentos suicidas.

Nada disso substitui investigação técnica; são hipóteses explicativas coerentes com a literatura científica e com descrições independentes do ambiente de alta pressão reportado por ex-membros e órgãos de monitoramento. Enquanto a instituição negar a realidade documentada de sua estrutura hierárquica e paramilitar — e enquanto persistirem lacunas periciais e testemunhais — a pergunta sobre se Paulo foi vítima de um acidente ou se tirou a própria vida seguirá aberta, como ferida para a família e como alerta para quem hoje serve nesse sistema.

Síntese do artigo

O caso Paulo Gabriel expõe um paradoxo central: sob a fachada de “escola de filosofia”, a Nova Acrópole - Brasil Norte manteve — e a Justiça reconheceu — uma estrutura de vigilância com contornos paramilitares, com check-lists operacionais, escalas e protocolos que incluíam permanência armada e previsão de disparo diante de “ameaça” (o chamado Cérbero e o “Esquema Seg FZD – Escala Ouro”). Esses registros documentais — somados à constatação judicial de que os depoimentos de acropolitanos omitiram a verdade de forma uniforme — desmontam a versão institucional de “acidente isolado” e evidenciam negligência: designar alguém sem qualificação para atividade de risco é ato ilícito, e foi assim que o tribunal enquadrou a conduta da ré.

Há, portanto, três pontos fundamentais:

  1. Estrutura armada reconhecida em juízo. O tribunal afastou as assertivas defensivas e acolheu a narrativa de que Paulo foi designado para vigilância armada, amparado por documentos internos da própria instituição.
  2. Depoimentos ensaiados e inservíveis. A uniformidade das negativas — todas oriundas de pessoas vinculadas à organização — foi lida como ocultação deliberada para afastar a responsabilidade da ré.
  3. Nexo com a morte e dever de cuidado. Escala formal no dia 28/11/2014, falta de treinamento e protocolo de armas, bem como a disponibilização de armas de fogo: sem isso, “não teria havido o disparo”, concluiu o acórdão ao reconhecer a culpa (negligência e imprudência).

Com esses elementos, a dúvida sobre acidente ou suicídio ganha densidade trágica: a perícia tardia e a cena não preservada impedem respostas definitivas — e isso, por si, já é um legado de opacidade que pesa sobre a instituição e sobre quem nela serve.

 

A moral que não se sustenta: o lema e a prática

“Nova Acrópole pede tudo, pois dá tudo.”
No discurso interno, o lema soa nobre. Na prática, porém, a instituição negou seus próprios fundamentos, sustentou em juízo uma narrativa derrubada por provas e, ao fim, partiu para processar a mãe do jovem morto — uma mulher que só pedia respostas. As reportagens locais registram essa travessia: primeiro, a busca de Elza Tonetto para que a morte do filho não caísse no esquecimento; depois, o peso de novos processos contra ela por não se conformar com as versões oficiais.

O que faz esse lema ruir é o contraste entre o “não temos recursos” e a realidade material do grupo. Documentos públicos mostram que a Organização Nova Acrópole mantém uma unidade rural em Cocalzinho de Goiás (Fazenda Rio Verde) e que já registrou atividade econômica ligada à criação de bovinos para corte (CNAE 0151-2/01) — ou seja, patrimônio e exploração agropecuária formalizados. Não se trata de meras alegações: há cadastro no Mapa das Organizações da Sociedade Civil (IPEA) e bases de CNPJ que listam a operação rural.

https://guiapj.com.br/consulta-cnpj/03653094000277/

Também não é crível alegar penúria quando o ecossistema de eventos pagos movimenta muito dinheiro. Somente uma palestra de seus nomes mais influentes (LHG) arrecada mais de R$ 50.000 de acordo com notas fiscais públicas, e ninguém quis ajudar a família do Paulo.

Enquanto isso, na esfera judicial, a própria Justiça Trabalhista registrou indícios de falso testemunho: decisões apontam que testemunhas “calaram a verdade” sobre as circunstâncias da morte e determinaram remessa ao Ministério Público para apuração de crime (CP, art. 342). Esse ponto é objetivo — não é opinião — e consta nos autos/ementas divulgadas em bases jurídicas.

Resultado? A fachada de “caridade” e “valores humanos” não sobrevive ao teste de realidade: há patrimônio rural, atividade econômica, eventos rentáveis e estratégia contenciosa contra uma mãe enlutada — mas não houve amparo digno à família de um “cavaleiro de elite” morto em atividade vinculada ao aparato de segurança. E, quando a verdade ameaça a cúpula, a máquina institucional se move para negar, litigar e silenciar. Chame isso do que quiser; o padrão lembra menos uma escola de filosofia e mais a lógica de uma organização que protege o topo a qualquer custo.

 

Alerta aos atuais integrantes do “corpo de segurança”

Toda terça-feira vocês pedem ao “grande pai” para não cair na tentação de viver a qualquer preço. Vocês entregam a vida ao ideal acropolitano — mas quem cuida da saúde mental de vocês? Na prática, só há mais pressão para serem infalíveis. Se um dia adoecerem, ninguém olhará por vocês: virarão peça obsoleta, substituída por um novato ignorante. Ninguém amparará a família de vocês; ao contrário, a culpa recairá sobre os seus ombros.

A cada madrugada de guarda, lembrem: vocês estão em pé, enquanto seus chefes recebem salário e dormem em paz.

 

 

Publicações mais lidas

Carta Aberta ao Google, ao Judiciário Brasileiro e à Sociedade

Seita Nova Acrópole: do império acropolitano ao ocaso burguês

Como Funciona a Seita Nova Acrópole por Dentro: Uma Jornada da Filosofia à Obediência

Carta a um Irmão Ainda Preso na Missão da Seita Nova Acrópole

NOVA ACRÓPOLE JÁ INICIOU A CENSURA E O COMBATE À VERDADE