O “Racismo Espiritual” da Seita Nova Acrópole


Nos últimos meses, temos recebido inúmeros comentários nos vídeos de denúncias contra a instituição Nova Acrópole. Entre eles, alguns chamam a atenção por revelarem, sem perceber, a lógica de exclusão e manipulação embutida em sua doutrina. Um exemplo é a acusação de que quem sai ou denuncia a seita estaria “vivendo o mito de Judas, o traidor”.

@José***** Como está a sua vida depois de ter decidido viver o Mito de Judas, do traidor?!

@José***** um Mito é um símbolo, Judas carrega o "complexo" do traidor! Não se refere a um momento histórico, mas uma vivência, a uma encarnação de uma ideia! A um movimento na própria alma! No caso, a tudo aquilo que um traidor, um X9, um dedo-duro, desleal, falso, infiel, perjuro, inconfidente, pérfido, delator... Cada qual escolhe os mitos que quer viver!! 🤷‍ Viva o livre-arbítrio e seja feliz com suas escolhas!

Essa linguagem não é inocente. Ela expressa um mecanismo de racismo espiritual — um sistema simbólico que divide pessoas entre “eleitos” e “traidores”, “superiores” e “degenerados”, “fiéis” e “perdidos”. A acusação de “Judas” funciona como um rótulo que dispensa reflexão e transforma a divergência em pecado.

O estigma do traidor

Quando um ex-integrante é chamado de Judas, não se trata de uma crítica racional, mas de uma tentativa de assassinato simbólico. Judas é usado como arquétipo de abjeção: o delator, o falso, o infiel, o inconfidente. O objetivo é claro: calar qualquer denúncia, deslegitimar a experiência de quem saiu e preservar intacta a narrativa oficial da seita.

Curiosamente, essa prática contradiz um dos próprios códigos internos da Nova Acrópole. O fundador, Jorge Ángel Livraga, afirmava que a indiferença cúmplice era o maior erro que um acropolitano poderia cometer. Mas o que vemos na prática é justamente o contrário: membros indiferentes, cúmplices, que fecham os olhos diante de crimes e abusos, mas acusam de “traidor” quem ousa apontar os fatos.

A cumplicidade como crime

O Código Penal brasileiro é claro: a omissão diante de crimes pode configurar participação e até mesmo coautoria.

  • O art. 13, §2º do Código Penal estabelece que quem tem o dever de agir para evitar um resultado criminoso e não o faz, responde como se tivesse causado o resultado.
  • O art. 299 pune quem falsifica ou assina documentos falsos (incluindo atas fraudulentas).
  • O art. 135 pune a omissão de socorro, que pode se estender em analogia moral e jurídica a quem presencia um assédio ou violência e silencia.
  • O art. 168 tipifica a apropriação indébita, aplicável a esquemas financeiros e enriquecimento ilícito dentro de instituições.

Ou seja, aquele que se cala diante de um crime não é apenas um “observador neutro”: pode se tornar cúmplice e responsável perante a lei.

Exemplos da prática cúmplice

Seria fácil pensar que os membros que acusam os outros de Judas estão em posição moral elevada. Mas na prática, a realidade é exatamente a contrária. São eles que:

  • Assinam atas fraudulentas que não respeitam sequer os estatutos da própria instituição.
  • Observam assédio moral em silêncio, deixando que outros sejam humilhados ou coagidos sem qualquer defesa.
  • Foram lesados pelo Guru Akbar (Talal Husseini) da Mente Ronin e, por medo ou conivência, optaram por não processá-lo.
  • Aceitam passivamente que alguém enriqueça com palestras milionárias usando o nome da instituição, sem transparência ou prestação de contas.
  • Mentem sistematicamente sobre a quantidade de livros em suas bibliotecas, ocultam a saída de membros nos relatórios e seguem o jogo para não desagradar seus chefes.
  • Têm acesso a documentos comprometedores nos drives internos, provas de irregularidades, das mentiras sobre a própria instituição, da loucura de JAL, mas se negam a investigar em nome de uma confiança cega.

Essas atitudes não são espirituais: são cúmplices. E cúmplices não têm autoridade moral para chamar ninguém de Judas.

A verdadeira traição

A verdadeira traição não está em denunciar abusos, mas em trair a própria consciência, entregando-a ao silêncio covarde. Trair é mentir para si mesmo todos os dias, vivendo de aparências, enquanto se perpetua uma máquina de exploração. Trair é abandonar vítimas à própria sorte para não perder um “lugar” na seita.

Acusar os denunciantes de Judas é, no fundo, uma projeção: os que se calam reconhecem, no fundo, que são eles os verdadeiros traidores da ética, da dignidade e até das próprias leis que deveriam reger a vida em sociedade.

Quando o ministério público derrubar as peças do jogo, você também responderá por isso.

O mito do “idealista morto por dentro” e a falácia Cypher

@José*****  uma pena que você tenha sacrificado seus sonhos e sua esperança em prol de uma página difamatória! Fico triste quando vejo um idealista morrer por dentro! Mas... é isso... escolhas...

@José*****  foi nada, macho... Sempre questionei e continuo questionando... nunca fui obrigado a fazer nada que ferisse minha dignidade ou me colocasse em situações vexatórias... Se você acha que é uma mentira, ótimo! Está tudo bem... todos tem direito de viver na mentira que escolheram pra viver... se você não acredita em Deus, na espiritualidade, nos Mestres.... tudo bem... direito seu! Direito meu acreditar! Você escolheu viver a vida do Cypher, preferiu viver uma vida voltada pro sentidos e desistiu de uma vida de aventuras internas... tudo bem, direito seu!! Delicie-se com seu suculento filé! Está tudo bem! Só não entendo por que difamar a vida que outras pessoas escolheram viver?! Não faz sentido... O que fizeram contra você?! Te fizeram muito mal?! Nos conte...

Os comentários citados revelam o script mental acropolitano diante de quem saiu: “você sacrificou seus sonhos”, “morreu por dentro”, “escolheu viver como Cypher, pelos sentidos”, “quem critica difama”. É um pacote fechado de desqualificação moral para não encarar o essencial: a ruptura de ex-membros costuma nascer não de fraqueza, mas de lucidez. E o que vocês chamam de “morte interior” quase sempre é o início da vida adulta espiritual.

1) “Você sacrificou seus sonhos… um idealista morreu por dentro”

Não. O que morre é a ilusão. O que nasce é o critério.

  • Quem sai não “quebra”; quebra a engrenagem de obediência que colocava a instituição entre a consciência e a realidade.
  • Em vez de idealismo infantil (ideal acima do real), nasce responsabilidade: a coragem de olhar para fatos, inconsistências, abusos e mentiras — inclusive as próprias.
  • O que vocês leem como “morte” é o luto pelo tempo e energia entregues a um projeto que se revelou fraudulento nos meios (manipulação, mentira, silenciamento) — não importando o verniz filosófico dos fins.

Resultado comum entre ex-acropolitanos? Crescimento brutal em autoconhecimento. A espiritualidade sai da gaiola do ritual, do crachá e do mito para se tornar experiência direta, não mediada por chefes, atas e “mandos”. A fé deixa de ser moeda de controle e vira responsabilidade ética diante do real.

2) “Eu continuo questionando; nunca feri minha dignidade”

Quem diz isso normalmente confunde questionar com ruminar dúvidas controladas dentro dos limites autorizados pela própria instituição. Questionar de verdade é testar o que fere sua dignidade onde dói:

  • Quando você assina atas que violam o estatuto, você não está questionando — está corroborando fraude.
  • Quando você vê assédio moral e se cala, você não preserva dignidade — você a aluga para a manutenção do sistema.
  • Quando você foi lesado por “Guru Akbar”/Mente Ronin e escolheu “deixar para lá” por medo de “mexer com a família espiritual”, você normalizou crime e chamou isso de “espiritualidade”.
  • Quando você mente e sonega informação no topo para “não desagradar”, você virou peça de uma máquina que engole a verdade.
  • Quando você tem acesso a documentos internos que mostram absurdos e escolhe não investigar porque “confia nos Mestres”, não é fé — é omissão programada.

Chamar isso de “não ferir a dignidade” é inversão moral. Dignidade é dizer “não” quando seu grupo diz “sim” ao inaceitável.

3) “Direito meu acreditar! Você escolheu ser o Cypher dos sentidos”

Essa é a falácia Cypher: opor espiritualidade (obediência e mito) à “vida dos sentidos” (prazer, filé, Matrix). Falso dilema.

  • Sair não é ‘virar Cypher’. É retirar o plugue da Matrix acropolitana: a matriz de crenças que transforma abuso em “prova”, mentira em “estratégia”, medo em “disciplina”, silêncio em “virtude”.
  • Fé não é licença para suspender fatos. Liberdade de crença existe; licença para mentir, lesar, assediar e fraudar não existe. “Direito de acreditar” termina onde começa o dano — moral, material, psicológico.
  • Espiritualidade não é anestesia sensorial. O corpo não é inimigo; os sentidos não são queda. A verdadeira disciplina não é contra a vida, e sim contra a autoenganação.

Repito: quem sai costuma ampliar sua prática espiritual — medita melhor, pensa melhor, ama melhor — porque recolhe de volta o poder que terceirizava para “mestres” e “ideais”.

4) “Por que difamar a vida que outros escolheram?”

Mais uma inversão. Relatar fatos não é difamar. Difamação é mentir para proteger reputações.

  • Denunciar é um ato espiritual quando a instituição profana a verdade.
  • “Escolhas pessoais” que lesam terceiros saem do foro íntimo e entram no foro ético e jurídico.
  • Se a casa está pegando fogo, gritar ‘incêndio’ não é intolerância com quem “gosta de calor”. É dever.

Quer falar de escolha? Então aceite as consequências: quem escolhe uma instituição que tolera fraude e assédio escolhe também a crítica pública. Não existe “direito ao segredo” para estruturas que operam com dinheiro, trabalho, imagem e saúde psíquica de pessoas.

5) “Nunca fui obrigado a nada vexatório”

Obrigação em sistemas disfuncionais raramente chega como ordem explícita. Ela vem como:

  • Condição de pertencimento (“se você ama o Ideal, você…”)
  • Gaslighting institucional (“você está confuso / é o seu ego / é sua sombra”)
  • Chantagem de pureza (provas, ritos, humilhações “pedagógicas”)
  • Economia da culpa (você deve à escola; sacrifique mais)

Você “aceita” por pressão simbólica e medo de perder a “família espiritual”. Isso ainda é coerção — só que elegante.

6) Deus fora da gaiola

“Você não acredita em Deus, nos Mestres?” — A pergunta certa é: em qual Deus, sob qual mediação e com qual custo humano?

  • O Deus domesticado pela ata, pelo ritual e pelo chefe é ídolo.
  • Mestre que precisa de silêncio para sobreviver não é mestre, é gestor de reputação.
  • O sagrado não precisa de não-transparência. Se precisa, não é sagrado — é projeto de poder tirânico.

Quando o ex-acropolitano sai, Deus sai da gaiola. Cessa o monopólio do invisível. Termina o pedágio simbólico. Cresce a ética — porque agora ela não é terceirizada a um “ideal”, ela é sua.

7) “Mas está tudo bem discordar… só não difame!”

Está tudo bem discordar quando a discordância não sustenta dano. Chamar de “difamação” toda narrativa que exponha abuso é uma técnica velha: calar por vergonha e culpa. Não funciona mais.

  • Quem chama a denúncia de “ataque” está dizendo: “não me faça pensar”.
  • Quem pede “respeito às escolhas” enquanto participa de mentira estruturada pede, na prática, anistia moral.

Escolhas viram condutas. Condutas têm efeitos. E efeitos têm responsáveis.

Para o acropolitano honesto (e só para ele)

Se ainda há honestidade em você, faça três movimentos simples:

  1. Fato sobre fé: quando um fato choca sua crença, investigue o fato, não ataque quem trouxe.
  2. Pessoa sobre instituição: se a lealdade ao grupo exige trair alguém (ou a verdade), traia o grupo.
  3. Coragem sobre conforto: preferir a paz do templo ao conflito da consciência é apostasia da alma.

Quem sai não escolheu o bife do Cypher; escolheu tirar o garfo do seu pescoço.

O Racismo Espiritual

Vocês se consideram melhores pelo simples fato de pertencerem a um sonho delirante de outro homem. Acreditam ser os dígitos de Deus porque trabalham com afinco e dizem zelar pelo coração puro de vocês mesmos. Mas essa “pureza” que exibem não passa de vaidade espiritual, um orgulho de casta, que separa o mundo entre “os que sabem” e “os que precisam ser conduzidos”.

Falam de fraternidade, mas vivem de hierarquia. Vendem igualdade, mas constroem castas simbólicas. Cada novo aluno é visto como inferior, alguém a ser domesticado, doutrinado e purificado até que pense, aja e sinta como vocês. É exatamente o que os jesuítas fizeram com os povos indígenas: impor uma espiritualidade como padrão civilizatório. A diferença é que vocês não usam espadas nem arcabuzes. Usam palavras, mitos e medos. A violência simbólica não deixa de ser violência.

Isso é o que chamo de racismo espiritual: uma crença perversa de que a sua experiência interior é superior à de qualquer outro, e que quem não se enquadra na sua forma de “espiritualidade” é visto como perdido, degenerado, traidor. Atribuem a si mesmos um estatuto divino, enquanto olham o outro como alguém a ser corrigido, moldado ou eliminado do convívio simbólico.

A realidade é que cada passo que vocês dão dentro da doutrina é um passo mais fundo na caverna que criaram dentro da caverna de Platão. Uma ilusão dentro da ilusão. Enquanto Platão buscava a saída para a luz do sol — o lugar da verdade — vocês constroem um labirinto interno, cada vez mais escuro, cada vez mais longe do real.

E ainda ousam chamar isso de filosofia. Não, filosofia não é crença cega em mandos, mestres ou códigos secretos. Um filósofo não crê: constata. Um filósofo não se esconde em dogmas: encara o espelho. Ele corta, com bisturi, cada incoerência dentro de si, até restar apenas o que é honesto. Filosofia é coragem diante do real — e não servidão diante de uma doutrina.

O que vocês praticam não é filosofia: é racismo espiritual. É a colonização da alma alheia. É a imposição de um “único caminho”, acompanhado da exclusão de quem não o segue. E racismo espiritual é tão degradante quanto qualquer racismo: porque nega a dignidade do outro em sua essência, em sua liberdade de pensar, sentir e viver a própria espiritualidade.

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