Nova Acrópole é uma Escola de Filosofia? Uma Análise Crítica
A Nova Acrópole se apresenta publicamente como uma “escola internacional de filosofia à maneira clássica”, prometendo o estudo comparativo de tradições antigas e o desenvolvimento integral do ser humano. Contudo, ao analisar seus métodos, discursos internos e práticas organizacionais, torna-se evidente que a instituição não opera como uma escola de filosofia genuína, mas como um sistema doutrinário com características religiosas e funcionamentos disfuncionais.
1. A ausência de pensamento crítico
A filosofia autêntica nasce da dúvida, da investigação e do
diálogo aberto. Como observa Karl Jaspers, “a filosofia não oferece respostas
prontas, mas desperta questões fundamentais” (Philosophie, 1932).
Na Nova Acrópole, porém, a dúvida é vista como falha
moral. Questionar dirigentes ou doutrinas é interpretado como “rebeldia” ou
“egoísmo”, e frequentemente resulta em isolamento ou expulsão. Esse ambiente não
fomenta autonomia intelectual, mas conformidade com um modelo de conduta
previamente estabelecido.
2. Doutrinação em lugar de reflexão
O discurso acropolitano, embora ornamentado com referências
a Platão, Aristóteles e Blavatsky, não incentiva o livre pensar, mas sim
a adesão irrestrita a um Ideal definido pelos fundadores e perpetuado
pelos dirigentes.
Pierre Hadot, em Exercícios Espirituais e Filosofia
Antiga (1995), destaca que a filosofia clássica visava à transformação
pessoal por meio de práticas de reflexão e liberdade interior. Em contraste, na
Nova Acrópole, a “transformação” significa ajustar-se ao padrão
comportamental da instituição, não cultivar a autonomia da razão.
3. Estrutura dogmática e hierárquica
Uma escola filosófica deveria promover debate plural,
com diversidade de interpretações. Na Nova Acrópole, o currículo é fechado: as
correntes filosóficas apresentadas são escolhidas para reafirmar os dogmas
centrais da organização (reencarnação, missão espiritual, hierarquia de
almas, karma).
Foucault (1984) alerta que “onde há disciplina e
normalização de condutas, há poder disfarçado de saber”. Assim, a Nova Acrópole
opera mais como um sistema de controle de subjetividades do que como
espaço de livre investigação.
4. Filosofia como fachada institucional
Externamente, a instituição insiste em dizer que não é
religião. Contudo, internamente, há rituais, culto à figura do fundador,
promessas de iniciação espiritual e até invocações a divindades específicas. A
linguagem filosófica serve como escudo retórico para evitar críticas,
atrair intelectuais e driblar a rejeição social a movimentos explicitamente
religiosos.
O filósofo Karl Popper já alertava que “ideologias que não
se permitem ser refutadas deixam o campo do pensamento racional e entram no
dogmatismo” (A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, 1945). A Nova Acrópole
constrói justamente esse ambiente — onde não há refutação possível, apenas
aceitação.
✅ Conclusão
A análise acadêmica e histórica demonstra que a Nova
Acrópole:
- Não
cultiva o pensamento livre, mas o desencoraja;
- Não
promove diversidade filosófica, apenas reafirma um dogma central;
- Não
é um espaço de investigação, mas de disciplina iniciática;
- Não
é filosofia, mas uma religião disfarçada com estrutura
piramidal e mecanismos de controle psicológico.
Assim, definir a Nova Acrópole como “escola de filosofia” é
não apenas incorreto, mas perigoso, pois mascara práticas sectárias sob
a aparência de estudo elevado, comprometendo a verdadeira essência da
filosofia: a liberdade de pensar.